segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Em bom madeirense.2

Linguajar perfeito, perfeito...
Linguajar este, que me foi enviado por uma amiga, perguntando-me se entendia a mensagem ou precisava de explicação.
Aqui para vós, assim se fala na terra onde ela nasceu e da qual muito se orgulha:

"Tava o vendeiro no paleio com o vadio do vilão quando ouviu uma zoada. Era a água de giro.
O buzico do levadeiro que vinha mercar palhetes à venda, vinha às carreiras e a fazer patifarias e a chungalhar os badalos da vizinhança pelo caminhe abaixe como um demoine.
Dá-lhe uma cangueira, trompicou nas passadas e empuxou o vilhão qué um cangalhe dum home. Bate cas ventas no lanço e esmegalha a pucra.
O vilhão dá-lhe uma reina vai a cima dele para lhe dar uma relampada, patinha uma poia. Ficou todo sovento.
O vendeiro dá-lhe uma rezonda por ele querer malhar num bizalho dum piquene.
Vem o levadeiro, e, ao ver o vassola, que anda à gosma e a encher o pandulho à custa dos outros, a ferrar com o filho, fica variado do miolo e diz-lhe umas.
O vilão atazanado, atremou mal e pensou que ele lhe tinha chamado de chibarro, ficou alcançado, deu-lhe uma rabanada e foi embora Todo esfrancelhado.
O levadeiro ficou mais que azoigado mas lá foi desantupir a levada.
O piquene chegou a casa todo sentido, com um mamulhe.
A mãe que é uma rabugenta mas abica-se por ele, ao ver ele todo imantado e a tremelicar das canetas, deu-lhe um chá que era uma água mijoca, pensando que canalha é mesmo assim, mas, como ele não arribava, antes continuava olheirento, entujado e da chorrica foi curar do bicho virado e do olhado roxo.
O busico arribou e até já anda a saltar poios de bananeiras na Fajã."

Texto que me foi gentilmente enviado pelo Marco Pestana e dito na Antena 1 Madeira pelo Pablo Camacho.
Muito obrigada a ambos.

De facto, não posso "cramar", tenho bons ouvintes a colaborar...

Xana.

4 comentários:

  1. Gostava de saber como posso consultar a tese da Ana Cristina Figueiredo, "Palavras de Aquintrodia". Fiquei curioso pelo trabalho.
    Será que já está disponível na biblioteca da UMA?

    Melhores Cumprimentos
    Henrique Freitas

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  2. "Não dês o passo maior que a passada".
    Lembro-me que a vereda para casa era empedrada e para melhorar os acessos, foram construídas passadas (degraus).
    Assim, o caminho ficou bom, mesmo até o terreiro (quintal) e mais facilmente podíamos transportar as compras.

    Henrique Freitas

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  3. Não sei já foi referido:

    Caí e fiquei entramelado (magoado, e com dificuldade em movimentar-se).

    Lembrei-me também das "marcas", que se desprendem das camisas e depois têm de ser cosidas.

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  4. Esta foi "roubada" à Lília Marta (a quem, mais uma vez tiro o meu chapéu). Retirado do blog "O Rabo do Gato"

    É reles como trevisco (planta selvagem que dizem ser venenosa).

    Penso que ontem perguntaram sobre expressões específicas de determinadas zonas da ilha.
    Lembrei-me que na Camacha, era costume chamar a mãe como "senhora mãe". Penso que em mais nenhum sítio a tratam desse jeito.
    Também na Camacha, quando querem perguntar se alguém vai ver o jogo de futebol, perguntam se essa pessoa vai ver o "desafio".

    Henrique Freitas

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