segunda-feira, 30 de março de 2009

Expressões no falar madeirense



Cachorro macho só é capado uma vez-O mesmo que dizer que só foi enganado uma vez. "Isso nunca mais acontece, hôme.Cachorro macho só é capado uma vez!"




Chorar na barriga da mãe- Diz-se do indivíduo favorecido pela sorte."Ele chorou na barriga da mãe, a casa da tia foi pra ele".




Casca fora, inhame dentro- Continuadamente, comer com apetite."Isto cá é assim... casca fora inhame dentro!"




Comer pão com côdea- Expresão usada em diversos casos, quando se quer dizer que não se acredita em certas coisas que nos dizem."É eescusado vires cá com essas tretas quéu já como pão com côdea!"




Comer pela ponta da corda- Ser bastante sovado-"Vai comer p´la ponta da corda p´a outro dia nan fazer aquilo!"




Contas feitas barco lavado- Forma de se dizer que se vai pagar imediatamente.
"- Dá tempo a receber o dinheiro.
- Nan senhor, tome lá. Contas feitas barco lavado."


"Quem se mete com meninos amanhece mijado/molhado"- Aforismo que indica mau sucesso.-"Já tava a ver qu´ia dar nisso; quem se mete com meninos amanhece mijado."

"A quem Deus não dá filhos, dá o diabo de sobrinhos." Utiliza-se quando uma pessoa que não tem filhos, tem sobrinhos traquinas.



"Bogas p´ra um lado, chicharros p´ra outro". - O mesmo que "separar o trigo do joio".


"Fazer um caldinho". - Aparar o cabelo ou a barba.
"Boa noite ti Pedro". - Diz-se das coisas que seforam e não voltam. O mesmo que "lá se foi".
Os bens foram-se p´auga abaixo e agora boa noite ti Pedro.
"Boa p´ra pregar no Pilar de Banger"- Diz-se quando se verifica que disseram uma mentira.- "Anda, vai pregar essa no Pilar de Banger."
"Ter pêlo/cabelo na venta". Diz-se daquele/a que tem mau génio, da pessoa exasperada, irreflectida, qu se indispõpe por qualquer coisa.
"Deixa-te de luzes que o azeite tá caro". - O mesmo que dizer: Não penses nissso. Deixa-te de histórias.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Ter pano para mangas e fazer correr muita tinta.

«Não ter pano para mangas» significa não ter por onde se alargar, não dispor de recursos suficientes para o que quer fazer...


Literalmente falando, não ter pano para mangas significa não ter tecido suficiente para fazer as mangas da peça de vestuário.



Ora, a manga, embora seja uma parte importante da referida peça, pode não existir, ou seja, a sua ausência não inviabiliza por completo a peça de vestuário: pode haver uma blusa sem mangas, um vestido sem mangas, uma camisola sem mangas ou, mesmo, em extremo, um casaco sem mangas.


Assim, quando alguém diz que não tem pano para mangas, pretende, em sentido figurado, dizer que não pode ir muito longe, não dispõe de muitos recursos, está limitado, ou, mesmo, que está atarefado, não podendo prestar atenção a tudo ou a todos que a solicitem.



Daí surgiu a expressão «ter pano para mangas», que significa ter muitos recursos, ter muitas potencialidades, ter muitos aspectos, ser extenso.


Por exemplo, com a afirmação «esse assunto tem pano para mangas», pretende dizer-se que esse assunto vai dar muito que falar, tem muitos aspectos que vão permitir que se discuta longamente sobre ele.

Com o mesmo sentido, existe «dar pano para mangas».



Se um tema dá pano para mangas, tal significa que vai permitir muita discussão, muitos comentários.


«Dar mangas» é uma expressão menos utilizada: significa fornecer meio ou ocasião para fazer alguma coisa.






Finalmente, a expressão «fazer correr muita tinta» faz lembrar a escrita com caneta de tinta permanente, em que a tinta desce pelo aparo e corre para o papel.



«Fazer correr muita tinta» significa, portanto, dar origem a que muito se escreva sobre o assunto.

Assim, em determinados contextos, a expressão «ter pano para mangas» tem um significado próximo de «fazer correr muita tinta».





In Ciberdúvidas.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Correr as capelinhas.

No programa de hoje perguntamos o que significam as seguintes expressões :

"Correr as capelinhas"

"Chorar na barriga da mãe"

"Cachorro macho só é capado uma vez."

Vamos, também começar com uma série de alcunhas.

Francisco Martins Ramos. catedrático na Universidade de Évora, reuniu 35 mil alcunhas no livro o "Tratado das Alcunhas Alentejanas" e concluiu que a maioria dos alcunhados são homens (88,8%) e apenas um terço (35,9%) aceita as alcunhas já que, regra geral, são depreciativas.

A maioria (32%) das alcunhas são do tipo comportamental, criticam atitudes e modos de estar.

O segundo maior grupo (15%) é o das alcunhas sobre características físicas.

Aqui na Madeira, todas as freguesias e quase todos os madeirenses têm alcunhas. Muitas vão passando de pais para filhos e desfilando pela familia que vai crescendo.Umas são mais generalistas, como o sítio onde se nasceu, outras prendem-se com as tais atitudes comportamentais ou familiares.

Os pescadores de Câmara deLobos são conhecidos pelos Xavelhas, nome do barco que utilizam na pesca ou por Charnotas, nome que davam aos chernes pequenos que pescavam.

Já em anterior programa falámos dos


Borreiros, do Caniçal;
Bragados, de Santana; e os
Broquilhos do Porto da Cruz.

Brevemente iremos compilar e dedicar uma hora de emissão às alcunhas dos habitantes das Madeira.Hoje, a nossa conversa é mais "pessoal". Falaremos de algumas alcunhas em pessoas bem conhecidas no meio social.

Nos Açores também não faltam alcunhas.

O açoriano mais famoso da actualidade, o futebolista Pauleta, é conhecido precisamente pela alcunha que herdou do pai. Pauleta chama-se na realidade Pedro Miguel César Resendes, nascido a 20 de Abril de 1973 em Ponta Delgada.

Até o antigo presidente dos Estados Unidos tinha, desde a universidade, a sua alcunha.

George W. Bush era conhecido pelos seus colegas por "Soufflé" por ser fofo e vazio na parte de cima...

Mário Soares ainda é recordado pela sua alcunha deBochecas.

O ex-presidente da República é um exemplo da popularidade das alcunhas em Portugal. E os mais antigos lembram-se, com certeza, da alcunha do Marechal Costa Gomes que ficou conhecido por Rolha, dada a capacidade em manter-se à superfície da vaga política no agitado período pós-25 de Abril.

Por cá e, nos nossos tempos de escola, quase todos os professores tinham uma Sra. Alcunha.

Quem não se lembra do Dr. César Figueira César, professor de inglés no Liceu, durante décadas?

A sua alcunha surge quando o navio da companhia colonial de navegação aporta no Funchal adornado para bombordo, e como o Dr. César tinha uma inclinação no pescoço para o lado do adorno do navio, assim ficou a sua alcunha - O Guiné.

O Dr. Álvaro Francisco de Sousa, era director da escola Industrial e Comercial do funchal e tinha a alcunha Pança de Gato devido à pretuberância do seu abdómen.

Enfim, para que façamos um programa culturalmente divertido, proponho-vos que nos ajudem dizendo-nos as alcunhas que se recordam, independentemento do seu grau de excêntricidade...

Ficam aqui também mais uma palavrinhas que encontramos no Fallares da Ilha, de Abel Marques Caldeira e no Vocabulário Madeirense, do Padre fernando Augusto da Silva livro gentilmente cedido por um ouvinte do Telefonias da Antena 1 Madeira .

Cabaça-Cucurbitácea(espécie de abóbora ou moganga) usada na alimentação e cuja casca, depois de seca, serve para guardar líquidos, especialmente azeite ou bebidas alcoólicas.Cabaça de pequeno porte que serve nas romarias para levar bebidas alcoólicas.




Cabaço-Virgindade.Objecto velho ou estragado pelo uso.



Cabrestar-vida airada de raparigas levianas



Cabrinhas- fetos com que ornamentam os presépios ou lapinhas.



Caçamu ou Caçamudo- Manhoso, reservado.Desleal.Pensativo.pouco falador.

Forte caçamu qu´é aquele gajo, nan dá uma fala a ninguém!



Cação-Nome pejorativo.Mulher de má nota.



Caçapo-Braguilha, bolso.



Cacarinho-Pequeno vasode louça ou de barro.



Cachaça-aguardente de recente frabrico ou de má qualidade.



Cachaço-Pescoço, animal reprodutor.



Cácos-Móveis modestos; estilhaços de de loiça ou de vidros.Fizeram uma acçaõ de despejo a Francisco, puzeram-lhe os cacos na rua... Falares da Ilha

Cácos- Fragmentos de louça partida Cousas inúteis ou pouco aproveitáveis. VOCABULÁRIO MADEIRENSE



Caçoar-Troçar



Cagaço-Susto



Cagagésimo-Cousa pequena e sem valor.



Caldeira-Vasilha de folha em que é cozido o peixe.



Calear-Dar cal nas paredes.Emboçar.



Calejado-Muito práctico e perito no serviço.



Calena -Vaga avolumada do mar em tempo bonançoso.



Calisto- Massador, importuno



Cambada-gente ordinária.Porção de pequenos peixes presos por um vime.



Cambita-que coxeia



Camilha-Catre de madeira do século XIX, composto por quatro pés altos, em forma de coluna, presos por varões de madeira ou ferro, dos quais pendem cortinados.



Candieiro-Rapaz que na dianteira dos bóis os guia no transporte de carros e corças.



Canelo- "lenha de ...2- Acha de lenha roliça.



Cangalha- Espécie de tabuleiro para conduzir os caixões com os defuntos.



Cangalheiro-Condutor de cangalha.



Cangalho-Pessoa alta.Objecto desproporcionado.



Campainha- Amígdalas



Cangueira-Cãibra

segunda-feira, 16 de março de 2009

Bebeu água de tremoços, vai ter um buzico...




Babuja ou babujinha-Superfície, à superfície da água.


Banano, bananeira,banzaburro-Muito grande.


Báia-Descompustura; repreeensão.


Balaio-cesto de vimes ou junco, em forma de peneira, onde os campónios deitam batatas cozidas.Pode ser também um cesto com asas.


Baldear- Voltar de cabeça para baixo.


Bamblú-Desordem, pancadaria.


Bandeja-"Naperon", toalha redonda ou oval, bordada.


Basculha-Rapariga pequena que quer dar opiniões.


Beter com o cú no cedeiro-Arrepender-se, chegar-se para a razão- Eu nan disse que ele ia bater c´o cú no cedeiro?-Já bateu...


Bater c´os tacões no cú- Fugir a correr.


Batoque-Rolha de garrafa, de garafão etc. Homem pequeno.


Bêbra-Relógio que não regula bem.Este relógio tá dando bêbras.Indivíduo indolente-ès um bêbra, nan fazes nada...É também designação de membro viril.


Beiça-Ponta de cigarro.


Bicharada-grupo numerosop de pessoas- Bendito, c´a bicharada que vem acolá-lem.


Bichinha-pénis de criança.


Bichinhas-Brincos de oiro, que os padrinhos dão aos afilhados no dia do baptizado.


Bicho-cancro ou tumor.


Bicho de pêcego-Diz-se de um indivíduo que não socega, está irrequieto-És um bicho de pêcego, socega p´r´aí.


Bico doce- Desejo de conseguir qualquer coisa, realizar ou comer.


Bicuda-Bebedeira-O Mest´A´gusto vai ali c´a bicuda. Há cinco dias qu´anda na ventania.


Bicueites-Estrang. O mesmo que bico calado.


Biguane-Estrang. que significa grande, do inglês big one.


Bilhardar-Ver, conversar, falar muito sobre a vida dos outros.


Bisalho-Pintainho, vagina de criança.


Boa bisca-Diz-se do indivíduo de má nota, de maus instintos.


Boa noite Ti Pedro- Diz-se das coisas que se foram e não voltam. O mesmo que lá sefoi.Os bens foram-se p´água abaixo e agora boa noite Ti Pedro...


Boa p´a pregar no Plar de Bânger-Diz-se quando se verifica que disseram uma mentira-Anda, vai pregar essa no Pilar de Bânger!


Boceta- Caixa para rapé ou tabaco de cheirar; vagina.


Bocêtas-Narinas-Vem arreganhando ai bocetas, anda... só sabes é fazer pouco...


Bocêtas-Carrancas.


Bóde-Piolho. Trato raivoso dado a um indivíduo do sexo masculino.


Bodeão-Quando alguém esta com sono, agitando a cabeça-Está pescando bodiões...


Boieiro ou boeiro-Condutor de bois, das zorras ou carros de bois.


Bolos e sol- Diz-se quando o indivíduo se recusa a fazer qualaquer serviço- Cust-te fazer isto, não é? è mesmo sei que só queres é bolos e sol.


Bonito duma vez-Expressão para demonstrar que é muito bonito. -Menina, o seu rapaz é bonito duma vez.


Borage-Beberagem. Á gua de lavagem dos pratos ou panela adicionando-lhe cascas de frutas e de legumes com que se alimentam os porcos.


Borliú- Grátis. O Alfredo entro pá bola à borliú.Borreiro-Alcunha dos habitantes do Caniçal.


Borracheiro- Homem que na ilha da Madeira transporta mosto ou vinho em borrachos.


Borracho-Recipiente constituido pela pele inteira de cabra, utilizado na ilha da Madeira para transportar mosto ou vinho.


Borreiro-Alcunha dos habitantes do Caniçal.


Boseira- Excremento; indivíduo sem acção para trabalhar.


Bossa-Capataz.


Bota-chã-Bota regional de atanado com sola corrida, muito usada pelos campónios.


Brabêsa ou bravêsa- Ferocidade, soberbia.


Braça- Medida de 10 palmos de nove polegadas, usada na Madeira, em medição de pedra.


Bragas-Olhos.-Já ´taes a deitar ai bragas p´áqui.


Bragado- Alcunha dos habitantes de Santana.


Brindeiro-Pequeno pão com que se brinda as crianças quando se amassa, sendo este costume mais usado no Natal.


Brónica- Feição de qualquer pessoa.Deve ser sucessão de Verónica. Rosto-Olha p´á bronica dele. Parece que já tem a morte adiante de si...


Broquilho ou borquilho O mesmo que bruzel-Nan te faças broquilho.Faz- t´um hôme sabedor.Diz-se também no género feminino.


Broquilhos- Alcunha dos habitantes da freguesia do Porto da Cruz.


Bruzel ou Bruzelo- Estúpido, indivíduo de maneiras grosseiras, brutamontes.


Bufar-Dar ventos, falar de farto.


Bulha-Desordem.


Bulir- Ver , mexer. Nan bulas nisso!


Buxo encostado ou buxo voltado-Entorse na barriga provocado por queda, o que é vulgar em crianças e adultos.


Buzico-Curto, pequeno.Nome que dão às crinaçs em várias freguesias.


"Burro dado nan se olha pá ui dentes" é uma expressão muito utilizada ainda hoje, e já agora alguém sabe o que é que os tremoços têm a ver com a gravidez?


Beber água de tremoços- Ficar grávida.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Vocábulos a dar c´um pau... "A"




A dar cúm pau-referindo-se a muita quantidade.-Este ano há nesperas a dar c´um pau.

Agachado-Aquele que é tolerante- O gajo foi toda a vida um agachado.

Agulheta-gancho para o cabelo.

Alma negra-Inimigo causador da infelicidade.-Oh raio, su´alma negra. Por causa de ti á qu´ando à imola.
Alma negra-Ave que habita na Madeira.

Altear o papagaio-Aumentar o prço dos artigos.Falar alto.

Amargar cuma pila-Amargar muito.Intragável. (Minha mãe diz quando está muito salgado...)

Amolar- Empatar, levar tempo a resolver um assunto.

Amparado- Diz-se com referência ao mau tempo.- Aqui tá mais amparado, nan chove nem fai´vento.

Andar ái cristas-Andar a brigar ou a discordar disto ou daquilo.-O José ´tava a resondar o cunhado na venda. Nan sabes quéles andam ái cristas p´o causa dui bens.

Andar de beiça- O mesmo que andar torcido.- O Ernesto anda de beiça comigo, nam sei por quê...

Andar-se comendo- Andar com ciúmes; sentir-se despeitado; andar com inveja.- O gajo anda se comendo...

Angra-Fome.-Já ´tou com angra, ´inda nan comi hoje...

Ao mê´pé- Ao pé de mim. O menino tem que ´tar aqui ao mê pé. Daqui nan se caminha.

Arcada-Corrupção de arrecada.V. bichinchas.

Arreganhar ai bocetas-Rir com ares de troça.O mesmo que arreganhar a prégáge.

Aa camacheiras´tão abanando ai saias-Diz-se quando o vento é de nordeste. C´o vento frio! As camacheiras ´tão abanando ai saias...

Assantar- Escrever. Sentar.S entar-se. Tá p´assentar no ról.-Nanposso assantar o mê nome qué nan sei escrever.-Assanta-te acolá naquele banco.

Assoprado-Furioso, muito exaltado.

Assobio, (de)- Óptimo. -Ih, que porreiro! Isto é d´assobio!

Atafulhar-Esconder

Atazanar- Insistir-Andas a toda a hora a m´atazanar, milher!

Atentareu- Aquele que tenta a paciência de alguém, que insiste até conseguir-És um atentareu, rapaz!

Atilho-Cordel.

Atochado-Que está cheio, que não leva mais-O cesto tá bem atochado.Diz-se também no feminino.

Atremar-Ver, compreender.

Atupir-Enterrar. Atupido-Enterrado.

Avó-Menstruação.

Az de copas-Anus.

segunda-feira, 9 de março de 2009

"Ficar a ver navios".


A Lenda de Pedro Sem.



A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem.

A história diz que essa torre pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D. Afonso VI, no século XIV. Mas a lenda remete para uma data posterior, no século XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da Torre.

Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas não tinha títulos de nobreza, o que muito o afectava.

Era também usurário, emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto vivia rodeado de luxo.

Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de seu pai.

Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro.

O arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer pobre.

Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande tempestade!

Pedro Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus.

De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens.

Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se a quem passava: "Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora não tem...".



In "Lendas de Portugal".



Daqui, a expressão "ficar a ver navios", que pode também ser atribuida ao Sebastianismo, numa altura em que os espanhóis ficavam ansiosamente à espera da Nau com D. Sebastião - O Desejado, e o monarca não chegava...



Ficar a ver navios , é portanto, o mesmo que sofrer uma desilusão. Não obter o que se quer.

Quem diria? Dizemos nós

Quem diria? Dizemos nós,... cada um e em variadas circunstâncias, de improviso e no fluxo da conversa. Ora, a verdade é que as expressões idiomáticas – que é como quem diz “conjuntos de palavras que se juntam e se conservam ‘agregadas’ com um significado específico – têm uma primeira origem, nem sempre clara e muitas vezes surpreendentes. Hoje vamos conversar precisamente sobre estas ‘frases feitas’ e do modo como elas foram sendo ‘cozinhadas. Umas vêm de muito longe, outras serão mais recentes, mas cada uma tem uma história engraçada que merece ser contada. Vamos hoje levantar o véu sobre algumas destas curiosidades....

Quem nunca se sente a “Andar à toa”?
Ora, “Toa” é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que anda "à toa" é um barco que não tem leme nem rumo, e que vai para onde o navio que o reboca determinar.
Então, andar à toa significa vagar sem destino nem objectivo, desorientado.

E a “Andar ao Deus dará”?
Este é uma daquelas expressões que parece simples mas tem uma história engraçada...
Esta famosa frase era originalmente a resposta de quem não queria dar esmolas.
Os homens avarentos respondiam aos mendigos que lhes estendiam a mão a pedir uma esmola: “Deus dará”. Assim, quem dependia da caridade pública ficava em má situação, andava ao Deus dará.

Nos dias de hoje acontece muitas vezes alguma coisa “Custar os olhos da cara
A história desta expressão é muito antiga e começa com um costume bárbaro (e um pouco cruel, convenhamos...) que consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de indivíduos que, pela influência que detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Cegos, eles seriam inofensivos ou menos perigosos. Quer isto dizer que um comportamento ou uma conduta que não agradasse aos bárbaros tinhas as suas consequências, porque custava aos prevaricadores os olhos da cara.
Depois deste primeiro sentido mais antigo – guerreiro e bélico – , é natural que, porque a visão é um dos sentidos mais valiosos e importantes para o ser humano, então, a expressão “custar os olhos da cara” tenha passado a ser sinónimo de custo excessivo, exagerado, de algum artigo muito caro, que ninguém pode pagar.

E dará, realmente, sorte “Entrar com o pé direito”?
Esta expressão teve a sua origem no Império Romano, onde havia uma antiga superstição que, entretanto, se espalhou pelo mundo inteiro. Nas festas realizadas na antiga Roma, os convidados eram avisados de que se deveria entrar nos salões dextro pede - com o pé direito - para evitar o azar. E, assim, ainda hoje, para desejarmos sorte a alguém dizemos “entra com o pé direito”...

Mas e por que é que não conseguimos “Não entender patavina”?
Esta expressão significa declarar ignorância total sobre determinado assunto. Alguns estudiosos dão como explicação o facto de os portugueses – no tempo das Descobertas – terem dificuldade em entender os mercadores e os frades franciscanos patavinos, isto é, os comerciantes ou os religiosos originários da cidade de Pádua (que em italiano se diz Padova, uma palavra que, por sua vez veio do latim, Patavium).

Nenhum de nós gosta de “Ser o bode expiatório”...
Ora aqui está uma expressão de uma outra tradição, a judaica. Dizê-la significa que alguém recebe a culpa de algo cometido por outra pessoa. O uso desta frase apareceu porque o povo judeu tinha o rito de, simbolicamente, depositar todos os seus pecados num bode, que era levado para o deserto e aí abandonado, para que cada um dos pecadores se pudesse libertar da culpa e de todos os erros cometidos. Hoje em dia diz-se que alguém é o bode expiatório porque todas as culpas – mesmo as que não tem – recaem sobre ele...

Mas já nos aconteceu a todos “Cometer um erro crasso”...
Ora, voltemos ao tempo dos Imperadores... Na Roma antiga o poder dos generais era exercido por três pessoas, o chamado Triunvirato. O primeiro destes Triunviratos era constituído por Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos, da antiga Pérsia. Confiante na vitória, resolveu prescindir de todos os conhecimentos de guerra, de todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar, escolhendo um caminho estreito e de pouca visibilidade. O povo dos partos, em menor número, mas organizados, venceram facilmente os romanos e Crasso foi derrotado.
Desde então – e espantosamente até aos dias de hoje –, sempre que alguém, tendo tudo para acertar, comete um erro estúpido, diz-se que cometeu um "erro crasso”.

Por estas e por outras é que às vezes apetece “Dourar a pílula”...
A verdade é que, antigamente, como é natural, os comprimidos não eram vendidos em embalagens de cartão... Assim, há muitos anos, as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto dos remédios (vendidos avulso) supostamente amargos e difíceis de tomar. Por isso, a expressão significa melhorar a aparência de algo ou tornar uma realidade menos dolorosa.

Todos temos o nosso “Calcanhar de Aquiles”...
Na mitologia grega, Tétis, mãe de Aquiles, tentou tornar o filho invencível mergulhando-o no rio Estige. No entanto, ao mergulhar o filho no rio, segurou-o por um dos calcanhares, deixando esta parte do seu corpo vulnerável (por não ter sido imersa na água).
Durante o cerco de Tróia, Aquiles é traído por Apolo, que revela a Páris, filho do rei de Tróia, o segredo da vulnerabilidade de Aquiles e este atinge-o no calcanhar com uma seta envenenada.
Desde os gregos até hoje esta expressão passou a designar o ponto fraco de uma pessoa... é o seu calcanhar de Aquiles.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Palavras d´aquintrodia - Ana Cristina Figueiredo

No programa de hoje:
Mestrado em
Ensino da Língua e da Literatura Portuguesas
Ana Cristina Alves Martins de Figueiredo.
Palavras d´aquintrodia:
contribuição para o estudo dos regionalismos madeirenses.
2º volume
(anexo)
Dissertação na área da Dialectologia Portuguesa
sob orientação do Professor Doutor
João Malaca Casteleiro.
Funchal
Outubro de 2004



http://gangdoserrado.no.sapo.pt/Falares.htm