segunda-feira, 9 de março de 2009

Quem diria? Dizemos nós

Quem diria? Dizemos nós,... cada um e em variadas circunstâncias, de improviso e no fluxo da conversa. Ora, a verdade é que as expressões idiomáticas – que é como quem diz “conjuntos de palavras que se juntam e se conservam ‘agregadas’ com um significado específico – têm uma primeira origem, nem sempre clara e muitas vezes surpreendentes. Hoje vamos conversar precisamente sobre estas ‘frases feitas’ e do modo como elas foram sendo ‘cozinhadas. Umas vêm de muito longe, outras serão mais recentes, mas cada uma tem uma história engraçada que merece ser contada. Vamos hoje levantar o véu sobre algumas destas curiosidades....

Quem nunca se sente a “Andar à toa”?
Ora, “Toa” é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que anda "à toa" é um barco que não tem leme nem rumo, e que vai para onde o navio que o reboca determinar.
Então, andar à toa significa vagar sem destino nem objectivo, desorientado.

E a “Andar ao Deus dará”?
Este é uma daquelas expressões que parece simples mas tem uma história engraçada...
Esta famosa frase era originalmente a resposta de quem não queria dar esmolas.
Os homens avarentos respondiam aos mendigos que lhes estendiam a mão a pedir uma esmola: “Deus dará”. Assim, quem dependia da caridade pública ficava em má situação, andava ao Deus dará.

Nos dias de hoje acontece muitas vezes alguma coisa “Custar os olhos da cara
A história desta expressão é muito antiga e começa com um costume bárbaro (e um pouco cruel, convenhamos...) que consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de indivíduos que, pela influência que detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Cegos, eles seriam inofensivos ou menos perigosos. Quer isto dizer que um comportamento ou uma conduta que não agradasse aos bárbaros tinhas as suas consequências, porque custava aos prevaricadores os olhos da cara.
Depois deste primeiro sentido mais antigo – guerreiro e bélico – , é natural que, porque a visão é um dos sentidos mais valiosos e importantes para o ser humano, então, a expressão “custar os olhos da cara” tenha passado a ser sinónimo de custo excessivo, exagerado, de algum artigo muito caro, que ninguém pode pagar.

E dará, realmente, sorte “Entrar com o pé direito”?
Esta expressão teve a sua origem no Império Romano, onde havia uma antiga superstição que, entretanto, se espalhou pelo mundo inteiro. Nas festas realizadas na antiga Roma, os convidados eram avisados de que se deveria entrar nos salões dextro pede - com o pé direito - para evitar o azar. E, assim, ainda hoje, para desejarmos sorte a alguém dizemos “entra com o pé direito”...

Mas e por que é que não conseguimos “Não entender patavina”?
Esta expressão significa declarar ignorância total sobre determinado assunto. Alguns estudiosos dão como explicação o facto de os portugueses – no tempo das Descobertas – terem dificuldade em entender os mercadores e os frades franciscanos patavinos, isto é, os comerciantes ou os religiosos originários da cidade de Pádua (que em italiano se diz Padova, uma palavra que, por sua vez veio do latim, Patavium).

Nenhum de nós gosta de “Ser o bode expiatório”...
Ora aqui está uma expressão de uma outra tradição, a judaica. Dizê-la significa que alguém recebe a culpa de algo cometido por outra pessoa. O uso desta frase apareceu porque o povo judeu tinha o rito de, simbolicamente, depositar todos os seus pecados num bode, que era levado para o deserto e aí abandonado, para que cada um dos pecadores se pudesse libertar da culpa e de todos os erros cometidos. Hoje em dia diz-se que alguém é o bode expiatório porque todas as culpas – mesmo as que não tem – recaem sobre ele...

Mas já nos aconteceu a todos “Cometer um erro crasso”...
Ora, voltemos ao tempo dos Imperadores... Na Roma antiga o poder dos generais era exercido por três pessoas, o chamado Triunvirato. O primeiro destes Triunviratos era constituído por Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos, da antiga Pérsia. Confiante na vitória, resolveu prescindir de todos os conhecimentos de guerra, de todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar, escolhendo um caminho estreito e de pouca visibilidade. O povo dos partos, em menor número, mas organizados, venceram facilmente os romanos e Crasso foi derrotado.
Desde então – e espantosamente até aos dias de hoje –, sempre que alguém, tendo tudo para acertar, comete um erro estúpido, diz-se que cometeu um "erro crasso”.

Por estas e por outras é que às vezes apetece “Dourar a pílula”...
A verdade é que, antigamente, como é natural, os comprimidos não eram vendidos em embalagens de cartão... Assim, há muitos anos, as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto dos remédios (vendidos avulso) supostamente amargos e difíceis de tomar. Por isso, a expressão significa melhorar a aparência de algo ou tornar uma realidade menos dolorosa.

Todos temos o nosso “Calcanhar de Aquiles”...
Na mitologia grega, Tétis, mãe de Aquiles, tentou tornar o filho invencível mergulhando-o no rio Estige. No entanto, ao mergulhar o filho no rio, segurou-o por um dos calcanhares, deixando esta parte do seu corpo vulnerável (por não ter sido imersa na água).
Durante o cerco de Tróia, Aquiles é traído por Apolo, que revela a Páris, filho do rei de Tróia, o segredo da vulnerabilidade de Aquiles e este atinge-o no calcanhar com uma seta envenenada.
Desde os gregos até hoje esta expressão passou a designar o ponto fraco de uma pessoa... é o seu calcanhar de Aquiles.

Sem comentários:

Enviar um comentário